4° Festival de Cinema Curta Amazônia

    TERRA DOS MENINOS PELADOS em seu primeiro festival fora do Amazonas ganhou prêmio como Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Produção Amazônica e um prêmio especial do Júri na categoria de clip da trilha sonora "LAMENTO DE RAÇA"  de Emerson Maia. Os prêmios vieram como incentivo, além de agregar valor ao filme e ao trabalho dos profissionais envolvidos durante a produção. 
     Em nome de toda a equipe agradecemos a cidade de Maués, em especial as pessoas que diretamente envolvidas contribuíram com a valorização da cultura amazonense nesse registro tão importante para nossa região, e com a certeza que iremos sempre primar pelo aprimoramento do exercício do olhar em fazer o melhor cinema do Amazonas.      

 
http://www.rondoniaovivo.com.br/noticias/premiacao-do-4-festival-de-cinema-curta-amazonia-2013/101724#.Ub0VLdhqOTt

MATAR A MATA NÃO É PERMITIDO!

A partir de aspectos sociais e culturais, explorando de forma poética e exótica o comparativo da realidade urbana, interiorana, da fantasia e da preservação do homem imaterial. Este curta mostra a caracterização dos personagens, nos figurinos, na complexidade ao usarmos locações reais, no vai e vem frenético do cotidiano do dia a dia do grande centro e da vida simples das belezas naturais do interior do Amazonas que ainda é pouco explorado no cinema nacional.  A estética visual do filme é carregada nas cores tendo como pano de fundo o verde da Amazônia que salta os olhos enquanto as imagens narradas são as lembranças vividas do personagem numa terra distante da sua realidade atual. 
 
 







A linguagem abordada é referência do homem urbano e do caboclo amazonense. O tema musical “Lamento de raça” do musico amazonense Emerson Maia é interpretado por Heloína Soares, com novo arranjo de autoria de Paulo Marinho, sendo regida pelo Maestro Marcelo de Jesus da OCA. A partir da junção de ideias “Lamento de raça” ganhou a mistura da música clássica e moderna que pontua que somos brasileiros, independente de qual região do país pertencemos.


by Izis Negreiros                                                                                  

NA HOLYWOOD DA AMAZÔNIA É ASSIM...


O universo amazônico, com sua exuberância, diversidade, exotismo e lendas sempre atraíram a curiosidade de muitos. Poucos, porém conseguiram fazer registrar e perpetuar através de filme, esta bela e dura realidade. Do pioneiro Silvino Santos, até Marcio Souza com o legendário “A Selva” história de Ferreira de Castro, passando por Fitzcarraldo, de Herzog até as mais recentes incursões de cineastas reconhecidos e principiantes, todos inexoravelmente enfrentaram dificuldades comuns.
As chuvas constantes, nuvens de insetos, distâncias e dificuldades de locomoção, o não reconhecimento local e a burocracia oficial, são algumas destas dificuldades. A com maior constância e intensidade sem dúvida são os custos que advindos destas situações podem e na maioria das vezes são incompreendidos por agências oficiais e mesmo investidores. Aí fica tudo mais difícil e apenas os desbravadores e corajosos conseguem seguir esta estrada.
É sob esta ótica que vejo a desenvoltura corajosa destes jovens construtores da imagem, que num esforço hercúleo tem conseguido fazer filmes e história desta nossa e bela e arisca Amazônia. Nem poderia ser diferente, mirando o exemplo dos “Cabanos” e de nossas raízes indígenas, sempre nos renovamos nas dificuldades e delas fazemos trampolim para novos caminhos.
Maués, palco de belos e corajosos momentos se sente honrada em participar desta iniciativa, menos por sua participação e muito mais pelo desempenho destes jovens intelectuais que fogem ao lugar comum e transformam a cultura em ferramenta de inclusão social.
Que o esforço destas ações, representem um exemplo, que seus reflexos se transformem em reflexão para todos e assim possamos caminhar juntos na construção de uma estrada cultural e cuja ponte nos ligue com o futuro.
Que o filme “Terra dos meninos pelados”,marque o início de uma nova trajetória cultural, que sirva de exemplo  e direção para todos e consiga atingir seus objetivos. Unir as pessoas e instituições em prol da cultura.
 
Ademar Xico Gruber
Sec. Municipal de Cultura e Turismo
Maués – Amazonas ‘Terra do Guaraná”

FOI O BOTO!

O personagem mais popular da rica mitologia amazônica é o Boto, um cetáceo de água doce que no imaginário coletivo vira homem. Dizem que na forma humana, é um belo rapaz, alto, forte e tez morena. Com o seu olhar hipnótico seduz as mulheres dos beiradões. Dizem ainda, que muitas vezes seduz também os homens. Assim, donzelas são desvirginadas por esse estranho ser erótico dos rios, muitas vezes acabam grávidas. À noite, nos arraiais das comunidades ribeirinhas, o Boto aparece para as suas conquistas. Nesse momento se veste elegantemente de branco, usa um chapéu de palha que serve para esconder o buraco que tem no alto da cabeça, por onde na forma aquática esguicha água. Gosta de festa e dança por toda à noite. Porém, desaparece antes do clarear do dia, deixando “caboclinha” envolvida pelos seus encantos. A partir daquele momento a jovem fica encantada e passa a esperá-lo na beira do rio. Às vezes, ele volta para levar a sua conquista para o fundo das águas.
Existe uma versão que talvez explique a origem dessa lenda. Era uma vez... uma garota namoradeira que engravidou de um rapaz da Comunidade. Para não ser condenada por aparecer com um filho fora do casamento e principalmente para se livrar do questionamento do pai sobre a paternidade desconhecida, ela sonsamente caluniou o pobre cetáceo dizendo: – “Foi o Boto!”. 
A partir daí o Boto ganhou a fama pela paternidade desconhecida na Amazônia. Essa “estória” se tornou muito forte no imaginário do habitante da região, a ponto de qualquer pessoa que navegue nos rios amazônicos e se depare com um Boto dando saltos e mergulhos nas águas, mesmo sabendo que esse cetáceo não vira homem, de imediato, de forma mágica, passa a imaginar essa possibilidade.
Enfim, a lenda continua seduzindo homens e mulheres.

By Roberto Rogger
Diretor, roteirista e membro do Conselho Municipal de  Política Cultural de Manaus

COMUNIDADE DO CANARANA - MAUÉS


No amazonas, uma quantidade imensa de vestígios arqueológicos como grandes urnas e potes cerâmicos são encontrados. 
Em vários municípios o fenômeno do afloramento de peças indígenas, ponta de lanças e flechas em ossos é uma constante. Exigindo do poder local, um olhar diferenciado e uma forma de gestão sensível de preservação ao mesmo tempo em que a população ribeirinha que normalmente encontram as peças e por muitas vezes literalmente “andam e pisam em cima delas”, exigem do poder publico algum tipo de retorno e qualificação na lida com as peças arqueológicas. 
Os ribeirinhos, ao contrario do que se pensa, sabem do valor cultural e cientifico dos achados. 


Numa visita num sitio arqueológico na região do município de maués denominado Canarana, há 25 minutos num bote movido a motor de 40 hps constatamos esta premissa.
Os moradores e lideres nos disseram reconhecer e entendem que a valorização deste patrimônio deve retorna a comunidade em forma de “renda extra” (como eles mesmo alcunham) com o turismo ecológico que vai desde o café da manha, com pernoite na comunidade com focagem de jacaré, observação e fotografia de pássaros, pesca e pequenos espetáculos musicais com desempenho de grupos culturais da própria comunidade e convidados. Segundo o sociólogo Carlos Garcia esta demanda existe e uma parte destes serviços é fácil de operacionalizar, diz ele, e o Sitio Arqueológico da Comunidade do Canarana pode se tornar parada obrigatória de pessoas interessadas em fazer um turismo que cresce muito no planeta que se chama o turismo de aventuras e esportes radicais em floresta. O sociólogo Carlos Garcia é um aficionado do tema e motivador da comunidade para que consigam construir um espaço onde as peças possam estar dispostas de forma adequada; serem vistas e apreciadas por todos que por lá aparecem em busca de informação, seja elas,pesquisadores ou aventureiros radicais.

Carlos Garcia – Sociólogo

O CANTO DA MATA


 A Biomusica é uma modalidade experimental de som e ruídos, ela pode ser ouvida em vários lugares. Nova Zelândia. África, Brasil, etc. 
Aqui no estado do Amazonas temos o grupo INBAÚBA fazendo estas incursões. Maués teve proposta semelhante e bem interessante do ponto de vista artística e experimental, e que foram executados e testados em eventos recentes como aconteceu na lenda do guaraná de 2006 e 2009. Versão Cerçeporangá.
A utilização de objetos de madeira entre outros objetos retirados da natureza que cercam o município como cuias, sementes, cascas de pau e sementes das mais diversas espécies, quando manipuladas, reproduzem sons e timbres. A Biomusica busca um efeito sonoro característico ao emitir  ruídos orgânicos, que são bem aceitos como versões “poéticas” e “espaciais” do som da própria natureza nestas obras e espetáculos.
As pessoas que dela se ocupam tentam dar uma “voz” a fala da mata, e que para o artista esta voz esta somente nos seus ruídos e nas pessoas que a ouvem e a percebem nos eventos onde ela aparece e pela própria experiência humana em ouvir sons ruídos da floresta as pessoas aceitam como efeito artístico, ou mesmo um “acento musical” de uma obra que esta sendo executada naquele momento.
Geralmente a Biomusica procura conceitos mitológicos de origem de criação, de lendas e mitos dos povos mais tradicionais para retirar a sua poesia enquanto proposta musical.
O filme TERRA DOS MENINOS PELADOS apresenta a Biomusica mauesense o olhar de seus artistas locais, que apesar sua formação enquanto conceito ainda está num estágio embrionário, mesmo assim resolveu apostar nesta modalidade musical e realizou a experiência artística de envolver o som de folhas secas das matas amazônicas, solo de banbús, acompanhados de uma batida eletrônica leve junto com o som grave e cheio do gambá que fazem a base das trilhas do filme. Nesta versão contamos com o som do xexeque, o caracaxá e até mesmo o inhambé usado nas aldeias dos çateres de Maués pela ocasião do ritual da Tucandeira que ganham novos significados artísticos  como incidentais para o filme junto com a filarmônica – orquestra de câmara do Amazonas - OCA o resultado muito satisfatório,  sendo apresentado pela primeira vez em filmes no Amazonas.
By Carlos Garcia – Sociólogo

A ARTE DE CONSTRUIR DO POVO ÇATERÉ MAWÉ


OS ÇATERÉS UTILIZAM CINCO COMBINAÇÕES DE TEÇUMES. CINCO FORMAS GEOMÉTRICAS

UMA DAS CARACTERISTICAS MARCANTES DO POVO INDÍGENA ÇATERÉ MAWÉ É O SEU ARTESANATO. AO CONTRÁRIO DO QUE GERALMENTE SE PENSA O ARTESANATO INDÍGENA ÇATERÉ MAWÉ TEM UTILIDADE PRÁTICA NO DIA A DIA DA ALDEIA. NO ENTANTO, POR SUA BELEZA ESTÉTICA E FORMAS DE GRAFISMOS UTILIZADOS NO TEÇUME E NOS OBJETOS CONSTITUEM UMA FONTE DE RENDA ALTERNATIVA E DE SOBREVIVÊNCIA DOS ÍNDIOS MAWÉS. NOS DIAS DE HOJE, A EDUCAÇÃO INDÍGENA ÇATERÊ MAWÉ NAS ESCOLAS DE ALDEIA E OS PAIS SE PREOCUPAM EM REPASSAR AO JOVEM ÇATERÉ DEVIDO AO SEU ALTO GRAU DE COMERCIALIZAÇÃO BEM COMO SE ENSINA OS TIPOS DE MATERIAL UTILIZADOS E EXTRAÍDOS DA NATUREZA PARA A CONFECÇÃO DELAS. ESTA NECESSIDADE DA VENDA E COMERCIALIZAÇÃO DO ARTESANATO AJUDA NA PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE DO POVO ÇATERÉ MAWÉ.  


O PANANE É CONHECIDO COMO PENEIRA ENTRE OS BRANCOS – É FEITA DE UM VEGETAL (FIBRAS DE ARUMÃ) ENCONTRADO NAS MATAS DE TERRA FIRME. AS TÉCNICAS PARA O TEÇUME VARIAM CONFORME A UTILIDADE DA PENEIRA: PARA PENEIRAR A MASSA É UM TIPO DE TÉCNICA. PARA FAZER O BEIJÚ E OUTRO TIPO DE TÉCNICA. PARA FAZER A TAPIOCA OU A GOMA É OUTRA TÉCNICA. ENTRE OS BRANCOS SERVE MAIS PARA ENFEITAR.
 
O PATAWI É UM OBJETO QUE SÓ É UTILIZADO PELOS TUXAUAS EM REUNIÕES. SERVE DE APOIO PARA QUE OS TUXAUAS POSSAM COLOCAR A CUIA ONDE É RALADO O GUARANÁ. O SAPÓ, ESTE UTENSILIO É FEITO DE TALA DE INAJÁ E É TECIDO COM CIPÓ TITICA. O PATAWI NÃO É VENDIDO COMO ARTESANATO. OS TUXAUAS PROIBEM A VENDA DO PATAWI. É UM OBJETO RARO DE SE VER.


O URUTU É UM UTENSILIO USADO PELO POVO ÇATERÉ MAWÉ PARA CONDUZIR FARINHA DAS “COZINHAS DISTANTES” ATÉ A “CASA DE MORADA”. SEU TEÇUME É FEITO COM FIBRA DE ARUMÃ. O URUTU PELA SUA BELEZA ESTÉTICA É BASTANTE COMERCIALIZAVEL. OS ÇATERÉS TAMBÉM COSTUMAM FAZER A TROCA DESTE OBJETO POR OUTROS PRODUTOS DA CIDADE.   
 
O PANAKU É A BOLSA DE VIAGENS DO ÇATERÉ MAWÉ. É FEITA DE CIPÓ TITICA QUE É ENCONTRADO NAS MATAS DE TERRA FIRME. PARA SE TECER O PANAKU É PRECISO DESCASCAR O CIPÓ TITICA E PARTE-SE O CIPÓ EM TRÊS PARTES COM A AJUDA DO KYSE (FACA). MAS DO CIPÓ SÓ SE APROVEITA A PARTE LISA. O PANAKU É OBJETO PESSOAL DO ÍNDIO ÇATERÉ MAWÉ. RARAMENTE É COMERCIALIZADO. HOJE SOMENTE OS INDÍGENAS MAIS ANTIGOS AINDA USAM O PANAKU E SÓ OCORRE NAS ALDEIAS MAIS DISTANTES.

By Carlos Garcia